06 fevereiro 2006

 

ma-o-man

Lembro-me, aí há muitos anos, de ter iniciado uma série de comic-strips (nunca acabada, nunca continuada) com o fantástico herói Ma-O-Man, acompanhado de perto pelo seu inesgotável sidekick, o pássaro Á-Lá.
Por alguma razão, desenhei as três ou quatro primeiras strips e nunca continuei; afinal vejo agora que isto é tudo direito por linhas tortas, e mal sabia eu de que me livrava, cedendo outra vez à preguiça quotidiana do "eu um dia acabo isto". Afinal, tivera eu perseverado, e era hoje à minha porta que se punham essas bombas em forma de turbante, e eram hoje os meus vizinhos a fazer esse papel de embaixada-da-suécia e a dizer "não, não, pois vejam bem, pois isto aqui ardeu tudo mas de certeza que não era nada connosco, não vamos lá levar a mal, ora coitados dos rapazes".

Essa espécie de pre-scientia, (omnisciência avant-la-lettre, sem Google nem nada, na altura em que "moderno" ainda era o X.25) evitou-me todo o mar dos dissabores que os crentes reservam para o ímpio, o infiel, esse que ofende sem pensar, mesmo sem querer ofender.

Até eu, que tanto me reservo, caí pois nessa tentação luciferina de representar o sagrado com a barba por fazer e uma t-shirt com um M maíúsculo, de achar que o sagrado voa e tem poderes como os X-Men. E se pintar o falecido com um simples turbante-que-faz-buum dá azo a tudo o que se vê e que se diz, que não fariam ao selvagem que o pintou de óculos escuros e uma capa-estilo-superman (símbolo extremo da condenável ocidentalidade, réstia esvoaçante do infame capitalismo, pois).

Dizia-me a minha mãe que "não deixes para amanhã o que puderes fazer hoje". Mas olha, mãe, desta vez, ainda bem que o entonteante ma-o-man entrou nesse dia na gaveta e, por preguiça, nunca mais de lá saíu.

Comments:
Vivas Julião,

só descobri agora o teu blog e fui ler de inicio. Tenho uma reclamção a fazer: Não estou devidamente irritado :)

Tens (como já sabia - mas só da componente "ao vivo e a côres" e não de ler) uma visão única da realidade e a leitura é "compelling" (às vezes no dicionário cerebral só aparece a versão anglo-saxónica...).

Vou-me tornar leitor assiduo :)

Abraço,
Torradas
PS.: Uns scans do Ma-O-Man já vinham a calhar, mas depois evita a Praça de Espanha (especialmente a mesquita) ;)
 
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